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A religião moderna, Midiolatria


Corpo imóvel, olhos atentos, mente aberta. Os adoradores, em posição de reverência, veneram a divindade. Nada pode atrapalhar seus instantes de culto. Sentem prazer indizível em desfrutar desses momentos sagrados, passando horas e horas em meditação. Os praticantes desta religião são os mais assíduos, não ficando um dia sequer sem contato com sua fé.
Ao acordar, a primeira coisa que fazem é passar momentos em adoração matinal. No trabalho ou na escola, rápidas fugas para comunhão. De volta ao lar, prostram-se imediatamente ao deus. No almoço, entre uma garfada e outra, olhadelas de fé. À tarde, impossível ficar sem culto. À noite, horário em que os templos estão mais cheios, nada melhor que meditação para aliviar o estresse do dia agitado. Hora de dormir, um último adeus àquele que permaneceu todo o dia ao seu lado. Assim, dormem ao som da voz do deus.
Cada dia mais cultuada, a mídia é maior e mais nova religião do mundo. Adeptos de toda a parte do planeta formam a cadeia crescente dos midiólatras. Televisão, internet, rádio, revistas e jornais são algumas das divindades que compõem o ciclo de adoração. Para alguns, eles são importantes, para outros, todavia, são essenciais para a existência.
Não faz muito tempo que as pessoas buscavam a religião como meio de escape para aliviar sentimentos ruins, como tristeza ou depressão. Entretanto, este é exatamente um dos motivos que têm levado milhares de pessoas a determinadas mídias, como a internet, por exemplo. Este meio de escape dos problemas é apontado pela Associação de Psicologia Americana como um dos sintomas de alguém que está viciado em internet.
Em uma pesquisa feita pela AOL (América Online), 87% dos entrevistados disseram que sentiriam muito a falta de acesso online. Outros 64% afirmaram que não conseguiriam mais viver sem internet. Exagero ou não, percebe-se aí claramente os primeiros indícios de midiolatria.
A internet é o meio de comunicação que apresenta maior crescimento. Os analistas do Morgan Stanley prevêem que, no final de 2003, a internet possuirá 536 milhões de adoradores, e que 85% dos usuários de PCs em todo o mundo terão acesso à web – que bênção!?
A TV, um dos mais antigos símbolos da midiolatria, também continua ganhando mais adeptos. A pesquisa “A Voz dos Adolescentes”, realizada pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), constatou dados relevantes sobre essa mídia. Notou-se que os adolescentes estão preferindo cada vez mais passar tempo se divertindo em casa que na rua. Dizem que se você já passou oito anos de sua vida assistindo TV, em média 3h55 por dia, já ficou um ano e três meses cultuando a telinha. Segundo a pesquisa, essa é a média dos brasileiros entre 12 e 17 anos.
Outras análises mostram que uma pessoa que assiste em média três horas de TV por dia, aos 75 anos terá passado nove deles em frente ao aparelho. Parece exagero, mas isso é o que acontece quando pessoas se deixam levar inteiramente pela influência midiática.
Determinados veículos, principalmente os segmentados, também são alvo de adoração. Milhares de indivíduos ociosos esperam avidamente suas revistas sobre computador, futebol, fofoca, moda e mulheres; resposta a suas orações.
Hoje, a religião da mídia possui mais praticantes que a Igreja Católica. Está presente em todas ruas; mais que a Igreja Universal. Tornou-se mais popular que os movimentos carismáticos. Tornou-se tão prejudicial quanto a falta de religião. Midiolatria, isso sim é pecado.
Escrito Por Daniel Lüdtke, Teólogo e Jornalista.

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